terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Uma mão amiga - Haiti
Ultimamente, quando ligo a televisão todos os dias só ouço notícias trágicas sobre a catástrofe que se abateu sobre o Haiti.
De 5 em 5 segundos ouço que o número de mortos aumenta e há cada vez mais destroços.
Sinto que o meu lugar não é aqui! Sinto que como tantos outros posso ser um ombro amigo que se disponibiliza e estende a mão para quem tanto precisa.
É agora que decido… é para lá que eu vou! É lá que alguém me chama, é lá que eu vou dar uso à palavra ‘solidariedade’.
Marco viagem, vou rumo a um país onde sei que muito coisa me vai chocar! Sei no ‘inferno’ que me vou meter! Durante o voo vou-me mentalizando e preparando para tudo aquilo que vou presenciar! Trago na bagagem tudo aquilo que lhes vou poder fornecer. Desde bens alimentares, a roupas que já não uso e calçado que não me faz falta.
Aterro em terra fértil do Haiti, ainda não cheguei ‘à boca do lobo’ e tudo aquilo já me impressiona! Há miséria por todo o lado.
Até nas zonas mais ricas e menos destruídas se sente o desespero que paira do outro lado! E é ao passar por aí que tento acreditar que o que me espera do outro lado não é assim tão desastroso.
É aí que me engano, acabei de passar a fronteira e entrei em Port-au-Prince.
Não sei como explicar aquilo que vejo, não sei como explicar aquilo se sinto. Não sei se me apetece chorar com toda a miséria que vejo ou se estou de tal maneira chocada que parece sentir a minha cara petrificada e não conseguir largar uma lágrima que seja.
Aqueles olhos das pessoas que me focam só me transmitem desespero e sofrimento.
Aqui predomina a lei do mais forte, daí a violência que se apodera das pessoas, pois todos aqueles que lá estão têm noção que a tragédia foi de tal maneira prejudicial que por mais ajudas que haja, tudo aquilo que lá está, todos os recursos que lá chegam são escassos. Todos os dias lutam para saciarem a sede e fome que encarna nos seus corpos e os deixa cada vez mais frágeis e débeis.
É um verdadeiro cenário de pobreza.
Cada segundo que passa é uma lição de vida para mim! Desperdiçamos tanto, discriminamos tanto, que tudo aquilo que até aqui achava indispensável na minha vida, passaram a ser factos irrelevantes.
A dor de perda que estas pessoas sentem pelos familiares queridos que morreram ou que ainda se encontram desaparecidos debaixo dos escombros é arrasadora.
Os campos de concentração são horrendos e não têm qualquer tipo de higiene. Há uma enorme facilidade no contágio de outras pessoas devido à falta de meios médicos que existem, porque nesta altura só se podem encontrar internados aqueles que realmente necessitam de estar acamados. Tudo o resto sobrevive perante a lei do mais forte.
O que mais me custa ver são as crianças pequenas que perderam os pais nesta tragédia e que agora estão à espera de lugares dignos em instituições.
A carência das pessoas é tanta, a falta de afecto é enorme e a realização das necessidades básicas é gigante.
São situações que atingem o extremo e que me impressionam a cada segundo.
Vou ter com um dos responsáveis da AMI que lá se encontro e deixo-lhe todos os bens que trouxe.
Posto isto, sinto que a minha viagem se pode dar por concluída porque sinto que aquilo que necessitava fazer já o realizei.
Comigo levo todas aquelas imagens que me chocaram, mas também levo as imagens que me impressionaram pelo facto de presenciar a força de vontade que muitos têm em lutar todos os dias para a sobrevivência.
Tornei-me uma pessoa mais madura e sensível.
Venho-me embora e a cada passo que dou, agradeço toda a comida que me cai todos os dias no prato e de toda a saúde que posso orgulhar-me de ter!
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Ana Rita Loureiro nrº2 10ºB
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